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terça-feira, agosto 19, 2008

Retato da Fé

Ao homem que tombara em desalento crendo-se velho, inútil, sozinho,
Deus permitiu pudesse escutar, certa feita, grande árvore seca, mas de pé
que lhe falou num cântico de fé
a beira do caminho:

Amigo, ergue-te e segue... Deus nos vê, não perguntes porque
A velhice aparente nos recobre... muitos passam aqui,
parando na viagem... Lamentam-me a nudez, dizem-me triste e pobre,
entretanto, ainda guardo a seiva da esperança e da coragem
que Deus criou em mim

Um dia fui explendido jardim. Os pássaros cantavam nos meus braços
Depois voavam, devorando espaços. Em seguida tornavam da distância,
a me pedirem ninhos! Com que amor lhes guardava
os filhotinhos!

Louvava o excelso Pai por minha mocidade e orava
a oferecer-lhe a minha gratidão, sob a forma de flores, de júbilo profundo
Quando se tem no mundo a paz no coração!...

Deus aceitava as minhas preces transformando-as em frutos
para todos aqueles que passassem... Quantos homens vieram e os recolheram!
Muitos nobres e bons, outros fracos e brutos que me varavam galho a galho
sem refletirem no trabalho que Deus tivera ao me formar...

Mas nada perguntei a eles quanto a isso, todos somos de Deus
para a luz do serviço, tendo por privilégio o dom de trabalhar.

Minha copa era grande... Era um vestido, todo ele a vibrar entretecido
De folhas semelhantes a esmeraldas...
Por isso mesmo ante o verão cadente, alegrava-me ouvindo a voz de tanta gente,
que me buscava o teto, assim como se busca a brandura da fonte.
Quando o sol nos ofusca, lembrando águia de fogo,
fugindo sem cessar ao pouso do horizonte.

Depois, o tempo veio...
Tudo parece ter levado! Meu corpo agora é nodulado e feio.
Mas creio em Deus e firmo-me de pé. Porque Deus certamente me deseja
para qualquer tarefa benfajeza... Talvez este meu corpo feio e nodulado
possa servir de apoio certo e amigo para algum pássaro cansado
que esteja ao desabrigo...

Não sei qual o destino a que o céu me conduz. Se algum machado bronco surgirá,
de repente, a decepar-me o troco. Para que eu volte ao alto,
em espiras de lume, na forma de calor ou de perfume em alguma
fogueira que me aguarde.

E nem sei se serei aproveitada em singela choupana, que me acolha,
mais tarde, para ajudar a nobre vida humana!

Nada sei do porvir, sei que pertenço a Deus
e que devo servir... O homem que se cansara
sem razão, levantou-se do chão! Fitou o mundo em torno!
Do verme ao firmamento, e do lodo ao cascalho
tudo era vida e luz, regozijo e trabalho...

Num pranto de emoção que a alegria lhe dava ao coração
exclamou para os céus: Sê louvado, Senhor!...
Num lenho que julguei largado e semimorto, deste-me nova fé,
visão, auxílio, reconforto! Perdoa-me, Senhor, a rebeldia!
Esquece todo mal que fiz nos erros meus.
E pelo doce amor que esta árvore à sós, entesoura e irradia,

Obrigado Meu Deus!



Maria Dolores.

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